terça-feira, 13 de outubro de 2015

8 de outubro de 2015 | Esquerda Diário

FRENTE DO POVO SEM MEDO


Rumos do PSOL
dando os braços com o lulismo e PT em uma frente que não dá medo a ninguém?

Leandro Lanfredi

Em meio à crise econômica, política e acelerado processo de rupturas com o PT o PSOL tem evitado assumir uma posição de claro combate a Dilma, Lula, o PT e todo o governismo, focando suas críticas em Cunha e na direita.


Isso se mostra não somente nas intervenções de suas figuras (salvo algumas das correntes minoritárias), mas agora também no terreno do que eles pretendem camuflar como se fosse “de luta contra os ajustes". Depois de uma ala minoritária do PSOL ter se negado a participar do ato governista de 20/8 e ter participado do dia 18 que foi “contra o governo e contra a direita”, agora se reunificam em amplíssima maioria (até agora sem nenhum protesto) em uma política mais à direita do que meramente um ato de rua: lançam uma frente permanente com os governistas, a chamada “Frente Povo Sem Medo".

Além disso, se negam a tirar as lições da ruptura do seu único senador, Randolfe Rodrigues, e de seu único prefeito, Clécio de Macapá, que ingressaram na Rede de Marina Silva, e seguem colocando para dentro de seu partido figuras políticas que não tem nada a ver com a independência política da classe trabalhadora frente ao governo e partidos burgueses.

Viemos insistindo que neste cenário nacional, onde não podemos estar nem com a direita e nem com o governo, o PSOL poderia cumprir um papel fundamental de combate ao PT em especial buscando canalizar pela esquerda a insatisfação popular. Foi nesse sentido que votamos como MRT a política de entrar no PSOL para batalhar por uma orientação revolucionária neste partido, que tem como um eixo fundamental o combate ao PT e ao lulismo e sua influência na classe trabalhadora. No entanto, vamos aqui debater francamente contra essa política adaptada que se seguir aprofundando esse curso, o PSOL vai perder a oportunidade de se apresentar como uma verdadeira alternativa política frente à crise do PT.

Frente do Povo Sem Medo blinda CUT de seu papel de força auxiliar no ajuste contra os trabalhadores

A “Frente do Povo sem Medo” foi constituída no final de setembro como uma frente permanente com objetivos declarados de lutar contra os ajustes e contra a direita. São signatários da frente o MTST, MST, a CUT, CTB, a UNE e praticamente todas as alas do PSOL. No dia 6/10 várias referências do PSOL participaram de conferência de imprensa desta frente que será lançada neste 8/10, com a presença confirmada inclusive de Luciana Genro.

Unidades pontuais com setores governistas em torno de mobilizações concretas com pautas específicas e progressistas são possíveis e úteis aos trabalhadores. Quando a CUT chamou mobilizações contra o PL 4330 que amplia e precariza a terceirização era correto “golpear junto”, guardando toda independência para mostrar o papel de Lula e Dilma em ampliar a terceirização e também para exigir da CUT uma mobilização efetiva em suas bases.

Não se trata de nada parecido nesta frente. Por mais que possa convocar um ou outro ato e colocar críticas às medidas do governo para parecer que “luta contra o ajuste”, essa frente termina sendo um ponto de apoio para o governo pela via de seus agentes no movimento sindical e popular, a CUT, a CTB, a UNE e outros agentes governistas. A CUT está traindo todas as lutas em curso para defender o governo, basta ver a recente greve de correios e sua política de PPE nas indústrias. O PCdoB está votando a favor de todos os ajustes no congresso que ele dizem ser contra. Fechar os olhos para isso e lançar uma “frente permanente” com estes setores não pode ser mais do que uma bóia salva vidas para o governo e essas direções que deveriam afundar junto com ele.

Alguns componentes nesta frente com o petismo como Guilherme Boulos do MTST e Luciana Genro buscam justificar como esta frente seria de “esquerda” e não uma frente governista como a “Frente Brasil Popular” liderada por Lula e Stédile. Porém, como é possível diferenciar uma de outra, se grande parte dos signatários de um também são signatários da outra? Douglas Izzo, presidente da CUT São Paulo respondeu na coletiva de imprensa de lançamento desta Frente Povo Sem Medo, quando questionado sobre a relação desta com a Frente Brasil Popular: “a diferença é que esta Frente é exclusiva de movimentos sociais e a FBP tem partidos na organização (...) A CUT apoia, coordena e participa das duas frentes porque ambas atuam em defesa da classe trabalhadora e da população brasileira.” Ou seja, a CUT escancara o que o PSOL e o MTST querem ocultar, que no fim das contas as duas frentes são funcionais para o governo. Assim, o PT e o PCdoB podem seguir votando todos os ajustes e aparecer junto a outros setores da esquerda “lutando” contra eles pra tentar sobreviver no movimento dos trabalhadores e popular que está cada vez com mais ódio do governo, do PT e dos ajustes.

Já vimos como na manifestação de 20 de Agosto quando parte do PSOL (Insurgência, Unidade Socialista, entre outros) participaram junto ao MST nos atos chamados pela CUT como apareceram críticas ao ajustes e a Levy mas o tom geral, nacional, que primou foi o “defesa da Dilma contra o golpe”. Se isto aconteceu em um dia de ação pontual o que é possível ganhar em uma frente permanente com estes defensores de Dilma? O que neste acordo caminha-se para o combate ao lulismo, ao petismo, e ao papel concreto que CUT e CTB estão desempenhando para a aprovação dos ajustes nas fábricas, derrotas e isolamento das greves?

Deste modo constroem uma frente que coloca pouco medo. Não coloca medo nas patronais já que é uma frente com a CUT que ajuda a implementar o PPE, e também não mete medo no governo, em Dilma, em Lula, pois estão cientes do papel de CUT, CTB, UNE em auxiliar em sua defesa “contra a direita”, nem que para isto tenha que diminuir o “fogo amigo” contra os ajustes.
O pior é lançar essa política num contexto em que está cada vez mais claro, apesar do jogo político para ganhar votos e do sensacionalismo de alguns jornais, que o tal “golpe” não existe e que o PT e o governo estão fortalecendo eles mesmo a direita e colocando o governo cada vez mais em suas mãos.

Toda a pressão é principalmente para debilitar o PT, mas a chave é que a burguesia nacional e internacional não deixa de disciplinar todas as alas dos partidos da ordem para que garantam a governabilidade para aplicar os ajustes. Mesmo depois da reforma ministerial em que Lula negociou a rendição de Dilma e o controle dele (Lula) sobre o governo, unificando e centralizando o PT e concedendo tudo ao PMDB, ao ponto de entregar o Ministério da Saúde ao PMDB do Congresso e o Ministério de Ciência e Tecnologia para Eduardo Cunha e seu "pau-mandado" Celso Pansera? Como pode apoiar uma frente "contra o conservadorismo" com o PT que ajoelha ao "chefe do conservadorismo"?

PSOL e seus parlamentares: porque poupam Dilma, e Lula, os “pais” do ajuste?
Que a CUT, CTB, UNE não queiram combater “seu” governo e façam de tudo para isolar ou mesmo impedir greves de categorias que se choquem com o governo federal (como em correios, bancários e petroleiros) não é uma surpresa. O problema é o PSOL se negar em apresentar uma verdadeira alternativa política ao PT pela esquerda em meio à tamanha crise do petismo e do lulismo, ligando as denúncias contra o PT ao combate à direita, sempre clarificando que o PT a alimenta. Essa é a única forma de que não seja a direita que capitalize estas rupturas.

Os parlamentares do PSOL como figuras muito conhecidas poderiam cumprir uma papel chave nesta orientação, no entanto este não tem sido seu foco.

Não tem peso central sequer utilizar a tribuna da Câmara de Deputados contra os ajustes de Dilma-Lula-Levy, nem mesmo apoiar as medidas de luta tomadas pela CSP-Conlutas. Ao contrário, elogia-se os atos e marchas da CUT, MTST, CTB. Quase também não ganha importância na atuação parlamentar um mero discurso parlamentar em apoio às greves dos correios (Babá foi o único parlamentar que deu importância em aparecer publicamente em apoio), dos bancários.

É necessário combater Cunha, mas porque diminuir a centralidade de combater Dilma que aplica os ajustes? Porque também não combater também Lula que está por trás das nomeações do ministério Dilma-PMDB e é um dos articuladores destes ajustes e já declarou publicamente apoiá-los?
Não dar este combate fortalece a direita e Marina e sua Rede a se postarem como “anti-Dilma”, “anti-PT”. Não apoiar as greves em curso ativamente nem mostrar a necessidade de superar os limites impostos pela burocracia sindical governista dificulta a que surja uma força real de combate aos ajustes.

Uma atuação parlamentar e uma orientação partidária consequente na luta contra os ajustes exigiria denunciar implacavelmente não só a direita mas mais ainda quem nos ataca, Dilma e o PT, e ajudar os trabalhadores em greve a sua vitória.

Abertura ao petismo, fechamento aos revolucionários?
Esta política de frente permanente com petistas e governistas é complementada pela entrada no PSOL de políticos sem nenhuma trajetória da defesa da independência política dos trabalhadores frente ao governismo petista ou a partidos burgueses ditos progressistas.

Uma grande parcela da militância do PSOL e seus simpatizantes comemoram a saída do senador Randolfe Rodrigues e do prefeito Clécio do Macapá para o Rede Sustentabilidade de Marina Silva. Eram representantes de uma política “sem limites” que permitia alianças eleitorais com o DEM e usar a justiça contra os trabalhadores em greve. A saída destes dois deveria levar a uma conclusão de ruptura com estes oportunistas de todo tipo que tentam fazer carreira em partidos de esquerda, assim esperavam muitos militantes. Mas não é isto que as novas filiações apontam.

Já entraram no PSOL Brizola Neto que foi da direção nacional de um partido (PDT) que apoiou e apoia até hoje o governo Dilma. Também tem entrado políticos oriundos do PSB, como Glauber Braga (de Nova Friburgo – RJ) que foi presidente estadual deste partido que sustentou o lulismo por mais de uma década.

Enquanto as principais correntes do PSOL estão abrindo suas portas para estes deputados oriundos do governismo e correntes lulistas-petistas como a Esquerda Marxista, ao mesmo tempo as maiores correntes seguem colocando dificuldades para a entrada de uma corrente que dentro ou fora do PSOL busca combater o petismo e avançar uma perspectiva de independência de classe. Isso apesar de que a campanha do MRT pela entrada no PSOL já foi apoiada por diversas correntes internas, por figuras públicas como deputados estaduais e vereadores e intelectuais que apoiaram a entrada de uma corrente revolucionária neste partido.

No entanto, está em questão se vai seguir primando no PSOL este rumo de adaptação ao PT e ao governismo e de fechamento de espaço a correntes que defendam abertamente essa perspectiva em chave revolucionária como o MRT ou se, por outro lado, vão vir a se reposicionar forças que apontam em outro sentido, o de construir o PSOL como uma verdadeira alternativa pela esquerda ao PT.

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8 de outubro de 2015 | Esquerda Diário on-line
OPINIÃO
Pode a Rede de Marina
se constituir como uma nova mediação de centro-esquerda?

Depois das dificuldades para legalizar seu partido em 2014, Marina Silva conseguiu finalmente a legalidade para sua legenda. Em poucos dias atraiu 5 deputados federais, um senador e alguns deputados estaduais, vereadores e prefeitos pelo país. A maioria dos recém filiados com cargos vem do PT, PSOL e PCdoB. As figuras mais emblemáticas já atraídas pela ex-ministra de Lula e duas vezes candidata a presidente foram o senador Randolfe Rodrigues (do Amapá, ex-PSOL), Heloísa Helena oriunda do mesmo partido e o deputado federal Molon, do PT do Rio de Janeiro.

Leandro Lanfredi / Rio de Janeiro
A atração do Rede Sustentabilidade de Marina abre interrogações se este novo partido poderia ocupar um espaço político e eleitoral à centro-esquerda oriundo da crise do PT que a direita tucana tenta, mas não pode ocupar facilmente, e ao mesmo tempo por não estar ocorrendo ascensão do PSOL ou outra força de esquerda para ocupa-lo. Neste artigo levantamos algumas possibilidades para este desenvolvimento que pode ter grandes implicações na esquerda brasileira.

Os 20 milhões de votos de Marina, onde estão?
Marina atraiu cerca de 20 milhões de votos nas duas vezes que concorreu ao cargo máximo da República. Na primeira vez, concorrendo pelo PV obteve 19,9 milhões, na segunda pelo PSB atingiu quase 22,2milhões de votos. Com exceção da capital paulista Marina encolheu um pouco seus votos nos grandes centros urbanos do centro-sul, mantendo mesmo assim uma expressiva votação, e cresceu vertiginosamente no nordeste, com auxílio de uma campanha que explorava sua imagem de “nortista” e da máquina montada pelo falecido Eduardo Campos do PSB.
No maior colégio eleitoral do país, a capital paulista, passou de 1,334milão de votos para 1,488milhões (quase 24% frente a 20%). No restante do Estado de São Paulo, Marina cresceu dos 3,5milhão de votos em 2010 para 4,27milhões em 2014, fazendo no total geral do estado alcançar mais de 25%. Esta interiorização do voto de Marina expressou-se em 2014 em vários Estados, mesmo onde ela encolheu.
A queda de Marina no Rio, BH, Brasília, Porto Alegre, aconteceu, porém manteve, ainda assim, um elevado patamar de votação sobretudo no Rio e Brasília.
Na capital carioca, Marina caiu quase cem mil votos, mas ainda assim obteve expressivos 31%, ganhando na capital de Aécio e Dilma em um quase empate triplo. No restante do estado do Rio de Janeiro a queda foi menos expressiva, de somente 20mil votos, alcançando importantes 1,6milhão de votos.
No Distrito Federal, Marina havia conquistado a eleição no primeiro turno de 2010, caiu quase 50mil votos, ainda assim obteve impressionantes 35% que lhe deram o segundo lugar, logo atrás de Aécio. Em Porto Alegre sofreu uma queda de expressivos 38mil votos, terminando bem abaixo da média nacional com 13,8%. No interior do estado, tal como ocorreu em São Paulo e no Rio, o resultado foi diferente, subiu 45mil votos.
Em Belo Horizonte e no Estado de Minas Gerais sua queda foi ainda mais expressiva, caindo 320mil votos na capital e outros 415 mil no restante do estado. Esta queda mineira explica-se não só pela tendência geral que mostrou uma queda maior nas capitais do que no interior (ou mesmo crescimento no interior) mas também porque em 2010 no primeiro turno Aécio não tinha se engajado plenamente na campanha de seu rival tucano Serra, abrindo espaço para a campanha de Marina.
O maior crescimento de Marina foi no Nordeste, em Pernambuco saltou de 903mil votos para 2,3 milhões. Na Bahia, cresceu 231mil votos, crescendo em vários estados limítrofes a Pernambuco sob influência da máquina do PSB de Eduardo Campos.

Quem são os vinte milhões de Marina?
Marina teve suas votações mais expressivas em três colégios eleitorais muito diferentes: Pernambuco, Distrito Federal e Rio de Janeiro. Pernambuco aponta a um fenômeno distinto, o peso de aparecer como “nortista” e todo apelo frente a morte de Eduardo Campos, bem como o peso regional do PSB.
Os resultados do DF e RJ, mesmo com suas quedas em 2014 frente a 2010, mostram uma consolidação (“um piso”) de votos em setores de classe média, em trabalhadores qualificados e do funcionalismo, em setores da juventude que já tendo feito experiência com PT não tenham migrado ao PSOL ou ao voto nulo. A votação na capital paulista, mesmo com menor proporção de funcionalismo público que a atual e antiga capital federal, apontam a padrões de renda e escolaridade similar em uma parcela de seu eleitorado.
Mas só de classe média e funcionalismo não se explicaria 20% dos votos nacionais. Marina também conseguiu atrair uma parcela dos votos de trabalhadores e setores populares, seja pelo perfil de evangélica e não corrupta, ou mesmo porque ao postar-se como “nem, nem” permite (apesar de seu programa) aparecer como uma alternativa de esquerda.

Como uma candidata de centro-direita pode ocupar ao mesmo tempo um espaço de centro-esquerda?
A campanha de Marina foi a mais marcadamente neoliberal das três grandes campanhas do ano passado. Atraiu votos em parcelas mais velhas da população e no interior do país justamente com um discurso mais à direita. No entanto, a percepção que amplos setores da população tem de sua trajetória política ainda lhe conferem um ar de centro-esquerda apesar de seu programa e do esforço do PT em ataca-la sistematicamente na última campanha. Uma parcela relevante, difícil determinar “quantos porcento”, de seus votos nos grandes centros urbanos vota nela como no mínimo uma continuidade dos programas sociais, sem o medo do privatismo tucano (por mais que ela o defenda).
Isto é ainda mais perigoso hoje em dia.
Com o processo de rupturas com o PT há uma grande raiva com este partido, com Dilma, com Lula. Para além das manifestações de rua e na internet da classe média e setores abastados há um visível descontentamento que se sente nos locais de trabalho e estudo e que misturam coisas que a elite dizia nos atos na Avenida Paulista com um descontentamento com a crise, com os ajustes.
Setores de esquerda não mostrarem, sistematicamente, a culpa do PT, de Dilma, de Lula não só pela corrupção, mas pelo aumento no desemprego, nos cortes na saúde, na educação, ajuda a setores de direita tentarem capitalizar o descontentamento com o PT. Até os tucanos, Paulinho da Força (Solidariedade), DEM e outros buscam surfar nestas rupturas. Marina pode fazê-lo com maior facilidade que seus competidores à direita e mais tradicionais.
A falta de um claro e hierárquico combate ao PT, a Dilma e Lula por parte da mais expressiva esquerda no país, o PSOL, abre espaço para que Marina e sua Rede possam ocupar com maior desenvoltura este espaço mesmo que tenham um programa de centro-direita.
Marina seu potencial e limites para emergir como terceira força
Em tempos de crise do PT e tentativa de capitalização pela direita desta crise a existência de uma “marca” de Marina como não sendo “nem PT, nem PSDB” lhe habilita a, se desejar, poder trilhar um caminho mais “anti-PT” para buscar capitalizar este processo.
Marina fez isto no segundo turno chamando voto em Aécio e agora se distanciou de tucanos como Aécio mantendo-se contrária ao impeachment. Porém, ano que vem Marina deve percorrer estados e municípios buscando mostrar este perfil “nem, nem” e fortalecer seus candidatos locais, nem que para isto tenha que adotar um discurso mais anti-PT, o que pode permitir continuar a ocupar uma parte do espaço de centro-esquerda que se abriu no país com a crise do PT.
Os parlamentares que Marina atraiu até o momento são oriundos da centro-esquerda e da esquerda do país. Isto lhe permitirá avançar a se postular neste caminho de imagem de centro-esquerda em meio às rupturas com o PT, mesmo que seu programa de governo seja de centro-direita. Porém esta combinação de perfil político de centro-esquerda com programa centro-direita tem maiores contradições em 2015 do que já tinha em 2014 e marca uma das dificuldades e contradições da emergência da Rede como “terceira força”.
O desenvolvimento de um anti-petismo à direita na classe média lhe pressiona mais à centro-direita. O anti-petismo mais popular e o avanço na crise econômica, na crítica aos ajustes pressionará seu partido a posições políticas que podem se contrapor a seus financiadores de empresas bilionárias como o Itaú e a Natura, exigindo se posicionar mais claramente em relação aos ajustes. Como o Rede e Marina poderão conciliar esta dupla pressão?
Independente das dificuldades para esta combinação, o elevado “piso” eleitoral de Marina lhe habilita muito bem para encarar este desafio, e, ao mesmo tempo, ausência de uma clara batalha contra o PT, Dilma e Lula por parte do PSOL facilita o caminho da ex-ministra para ocupar uma parte deste espaço político e eleitoral em disputa com o próprio PSOL que por mais que tenha um perfil mais “esquerda” que “centro-esquerda” também busca adaptar-se a este espaço e colher votos aí.
O que explica Marina, parceira do Itaú ainda poder postar-se de “terceira via”?
Primeiro um fator objetivo. Há uma clara disparidade nos ritmos com que setores de massa se desencantam com o PT e como percebem a crise econômica. E mesmo aqueles que percebem a crise e inclusive as greves que atravessaram as montadoras, vários setores do funcionalismo, nos correios, graças a uma expectativa dos trabalhadores que a crise será passageira, bem como a atuação das burocracias sindicais para isolar estas lutas impede, por maior que seja o ciclo de greves, que emerja uma conjuntura nacional das lutas dos trabalhadores.
As respostas isoladas, e em geral derrotadas, facilitam a que exista um foço entre o “sindical” e o “político”. A disparidade em ambos facilita aos governos e patronais se imporem nas lutas no plano “sindical” que nunca se eleva a uma “batalha de classe nacional” onde uma luta pode servir de exemplo a outras categorias, como foram os garis do Rio em 2014, e respostas à direita da independência de classe no plano “político”.
Produto, mas também produtora desta “conjuntura partida” de politização e greves mas que nenhuma motoriza a outra e eleva a outra, está a atuação da esquerda que se reivindica socialista. Este segundo motivo, subjetivo, explica como Marina pode ocupar este espaço sem grandes impedimentos.
A atuação sozinha da esquerda que se reivindica antigovernista e socialista, talvez não teria força para impor, por si só, alguma marca que sozinha alterasse esta conjuntura, porém permitiria, nem que a nível de uma vanguarda ampla de algumas centenas de milhares que esta politização avançasse a classismo, a ativismo, que as lutas da classe trabalhadora fossem cercadas de solidariedade na tentativa de ajudar a que triunfassem e marcassem um exemplo.
Esta responsabilidade é sobretudo daqueles que tem maior responsabilidade por serem os mais conhecidos de setores de massa, o PSOL e seus parlamentares, mas também a "esquerda sindical" brasileira e sua maior corrente o PSTU e CSP-Conlutas também poderiam cumprir um papel que não tem cumprido na luta de classes se solidarizando com as greves, buscando contribuir para sua vitória, o que implicaria em fazer muito mais que as importantes iniciativas pontuais como foi o caso da manifestação nacional do dia 18 de Setembro.
Voltando ao PSOL, a falta de foco na atuação partidária e parlamentar no combate ao governo Dilma, ao PT e ao Lulismo não coloca este partido como um dos principais interlocutores da grande insatisfação popular com o PT. E assim, não cumpre um papel que poderia cumprir, dialogar com esta insatisfação e ajudar que a mesma se desenvolva à esquerda, lutando tanto contra a direita como contra Dilma e o lulismo-petismo.
Ao contrário, o PSOL agora está em uma frente permanente com a CUT, CTB e MST.
O PSOL não se postar como uma esquerda diferente, classista, oposta ao PT e ativa para a vitória das lutas dos trabalhadores, pode permitir não ser qualitativamente diferenciável aos olhos das massas de Marina e sua Rede (em temas democráticos e direitos humanos sim) o que lhe dificultara o espaço político e eleitoral. O preço disto será pago não só pelo PSOL mas por toda a esquerda se passarmos a ter que disputar uma parte do espaço político com uma “centro-esquerda” parceira do Itaú e da Natura.

Ainda há tempo de corrigir rumos.
Toda a esquerda que se reivindica classista e socialista deve dar uma batalha contra este engrendro que combina centro-direita e centro-esquerda que pode estar se formando no país. E mais que isto, para além das "polêmicas de partido" e de textos, mostrar na atuação prática em cada luta importante em curso no país uma atuação decidida por sua vitória. Mostrar duramente o papel de Lula, de Dilma e do PT na crise que vivemos para ajudar a desenvolver uma resposta à esquerda e independente tanto do governo como da direita.
Não só das ideias corretas contra Marina e contra os ajustes de Dilma-Lula-Levy que se formará uma esquerda classista viável no pais, mas quando esta mostrar, na prática, a amplos setores dos trabalhadores porque ela merece existir e ser apoiada.

As greves e a politização estão aí para nos provarmos.________________________________

quarta-feira, 7 de outubro de 2015


Estados Unidos e genocídio.
Há quase meio ano, a Arábia Saudita bombardeia civis no Iêmen com apoio implícito e militar dos Estados Unidos. O imperialismo norte-americano segue sua política de tentar quebrar a hegemonia iraniana – depois de ter tido que ceder no acordo nuclear – no Iêmen. Para isso praticam um genocídio no Iêmen, com bombardeios incessantes em mais ampla escala do que na própria Síria, onde igualmente cometem atrocidades.