8
de outubro de 2015 | Esquerda Diário
FRENTE DO POVO SEM MEDO
Rumos do PSOL:
dando os braços com
o lulismo e PT em uma frente que não dá medo a ninguém?
Leandro
Lanfredi
Em
meio à crise econômica, política e acelerado processo de rupturas com o PT o
PSOL tem evitado assumir uma posição de claro combate a Dilma, Lula, o PT e
todo o governismo, focando suas críticas em Cunha e na direita.
Isso
se mostra não somente nas intervenções de suas figuras (salvo algumas das
correntes minoritárias), mas agora também no terreno do que eles pretendem
camuflar como se fosse “de luta contra os ajustes". Depois de uma ala
minoritária do PSOL ter se negado a participar do ato governista de 20/8 e ter
participado do dia 18 que foi “contra o governo e contra a direita”, agora se
reunificam em amplíssima maioria (até agora sem nenhum protesto) em uma
política mais à direita do que meramente um ato de rua: lançam uma frente
permanente com os governistas, a chamada “Frente Povo Sem Medo".
Além
disso, se negam a tirar as lições da ruptura do seu único senador, Randolfe
Rodrigues, e de seu único prefeito, Clécio de Macapá, que ingressaram na Rede
de Marina Silva, e seguem colocando para dentro de seu partido figuras
políticas que não tem nada a ver com a independência política da classe
trabalhadora frente ao governo e partidos burgueses.
Viemos
insistindo que neste cenário nacional, onde não podemos estar nem com a direita
e nem com o governo, o PSOL poderia cumprir um papel fundamental de combate ao
PT em especial buscando canalizar pela esquerda a insatisfação popular. Foi
nesse sentido que votamos como MRT a política de entrar no PSOL para batalhar
por uma orientação revolucionária neste partido, que tem como um eixo
fundamental o combate ao PT e ao lulismo e sua influência na classe
trabalhadora. No entanto, vamos aqui debater francamente contra essa política
adaptada que se seguir aprofundando esse curso, o PSOL vai perder a
oportunidade de se apresentar como uma verdadeira alternativa política frente à
crise do PT.
Frente
do Povo Sem Medo blinda CUT de seu papel de força auxiliar no ajuste contra os
trabalhadores
A
“Frente do Povo sem Medo” foi constituída no final de setembro como uma frente
permanente com objetivos declarados de lutar contra os ajustes e contra a
direita. São signatários da frente o MTST, MST, a CUT, CTB, a UNE e
praticamente todas as alas do PSOL. No dia 6/10 várias referências do PSOL
participaram de conferência de imprensa desta frente que será lançada neste
8/10, com a presença confirmada inclusive de Luciana Genro.
Unidades
pontuais com setores governistas em torno de mobilizações concretas com pautas
específicas e progressistas são possíveis e úteis aos trabalhadores. Quando a
CUT chamou mobilizações contra o PL 4330 que amplia e precariza a terceirização
era correto “golpear junto”, guardando toda independência para mostrar o papel
de Lula e Dilma em ampliar a terceirização e também para exigir da CUT uma
mobilização efetiva em suas bases.
Não
se trata de nada parecido nesta frente. Por mais que possa convocar um ou outro
ato e colocar críticas às medidas do governo para parecer que “luta contra o
ajuste”, essa frente termina sendo um ponto de apoio para o governo pela via de
seus agentes no movimento sindical e popular, a CUT, a CTB, a UNE e outros
agentes governistas. A CUT está traindo todas as lutas em curso para defender o
governo, basta ver a recente greve de correios e sua política de PPE nas
indústrias. O PCdoB está votando a favor de todos os ajustes no congresso que
ele dizem ser contra. Fechar os olhos para isso e lançar uma “frente permanente”
com estes setores não pode ser mais do que uma bóia salva vidas para o governo
e essas direções que deveriam afundar junto com ele.
Alguns
componentes nesta frente com o petismo como Guilherme Boulos do MTST e Luciana
Genro buscam justificar como esta frente seria de “esquerda” e não uma frente
governista como a “Frente Brasil Popular” liderada por Lula e Stédile. Porém,
como é possível diferenciar uma de outra, se grande parte dos signatários de um
também são signatários da outra? Douglas Izzo, presidente da CUT São Paulo
respondeu na coletiva de imprensa de lançamento desta Frente Povo Sem Medo,
quando questionado sobre a relação desta com a Frente Brasil Popular: “a
diferença é que esta Frente é exclusiva de movimentos sociais e a FBP tem partidos
na organização (...) A CUT apoia, coordena e participa das duas frentes porque
ambas atuam em defesa da classe trabalhadora e da população brasileira.” Ou
seja, a CUT escancara o que o PSOL e o MTST querem ocultar, que no fim das
contas as duas frentes são funcionais para o governo. Assim, o PT e o PCdoB
podem seguir votando todos os ajustes e aparecer junto a outros setores da
esquerda “lutando” contra eles pra tentar sobreviver no movimento dos
trabalhadores e popular que está cada vez com mais ódio do governo, do PT e dos
ajustes.
Já
vimos como na manifestação de 20 de Agosto quando parte do PSOL (Insurgência,
Unidade Socialista, entre outros) participaram junto ao MST nos atos chamados
pela CUT como apareceram críticas ao ajustes e a Levy mas o tom geral,
nacional, que primou foi o “defesa da Dilma contra o golpe”. Se isto aconteceu
em um dia de ação pontual o que é possível ganhar em uma frente permanente com
estes defensores de Dilma? O que neste acordo caminha-se para o combate ao
lulismo, ao petismo, e ao papel concreto que CUT e CTB estão desempenhando para
a aprovação dos ajustes nas fábricas, derrotas e isolamento das greves?
Deste
modo constroem uma frente que coloca pouco medo. Não coloca medo nas patronais
já que é uma frente com a CUT que ajuda a implementar o PPE, e também não mete
medo no governo, em Dilma, em Lula, pois estão cientes do papel de CUT, CTB,
UNE em auxiliar em sua defesa “contra a direita”, nem que para isto tenha que
diminuir o “fogo amigo” contra os ajustes.
O
pior é lançar essa política num contexto em que está cada vez mais claro,
apesar do jogo político para ganhar votos e do sensacionalismo de alguns
jornais, que o tal “golpe” não existe e que o PT e o governo estão fortalecendo
eles mesmo a direita e colocando o governo cada vez mais em suas mãos.
Toda
a pressão é principalmente para debilitar o PT, mas a chave é que a burguesia
nacional e internacional não deixa de disciplinar todas as alas dos partidos da
ordem para que garantam a governabilidade para aplicar os ajustes. Mesmo depois
da reforma ministerial em que Lula negociou a rendição de Dilma e o controle
dele (Lula) sobre o governo, unificando e centralizando o PT e concedendo tudo
ao PMDB, ao ponto de entregar o Ministério da Saúde ao PMDB do Congresso e o
Ministério de Ciência e Tecnologia para Eduardo Cunha e seu
"pau-mandado" Celso Pansera? Como pode apoiar uma frente "contra
o conservadorismo" com o PT que ajoelha ao "chefe do
conservadorismo"?
PSOL
e seus parlamentares: porque poupam Dilma, e Lula, os “pais” do ajuste?
Que
a CUT, CTB, UNE não queiram combater “seu” governo e façam de tudo para isolar
ou mesmo impedir greves de categorias que se choquem com o governo federal
(como em correios, bancários e petroleiros) não é uma surpresa. O problema é o
PSOL se negar em apresentar uma verdadeira alternativa política ao PT pela
esquerda em meio à tamanha crise do petismo e do lulismo, ligando as denúncias
contra o PT ao combate à direita, sempre clarificando que o PT a alimenta. Essa
é a única forma de que não seja a direita que capitalize estas rupturas.
Os
parlamentares do PSOL como figuras muito conhecidas poderiam cumprir uma papel
chave nesta orientação, no entanto este não tem sido seu foco.
Não
tem peso central sequer utilizar a tribuna da Câmara de Deputados contra os
ajustes de Dilma-Lula-Levy, nem mesmo apoiar as medidas de luta tomadas pela
CSP-Conlutas. Ao contrário, elogia-se os atos e marchas da CUT, MTST, CTB.
Quase também não ganha importância na atuação parlamentar um mero discurso
parlamentar em apoio às greves dos correios (Babá foi o único parlamentar que
deu importância em aparecer publicamente em apoio), dos bancários.
É
necessário combater Cunha, mas porque diminuir a centralidade de combater Dilma
que aplica os ajustes? Porque também não combater também Lula que está por trás
das nomeações do ministério Dilma-PMDB e é um dos articuladores destes ajustes
e já declarou publicamente apoiá-los?
Não
dar este combate fortalece a direita e Marina e sua Rede a se postarem como
“anti-Dilma”, “anti-PT”. Não apoiar as greves em curso ativamente nem mostrar a
necessidade de superar os limites impostos pela burocracia sindical governista
dificulta a que surja uma força real de combate aos ajustes.
Uma
atuação parlamentar e uma orientação partidária consequente na luta contra os
ajustes exigiria denunciar implacavelmente não só a direita mas mais ainda quem
nos ataca, Dilma e o PT, e ajudar os trabalhadores em greve a sua vitória.
Abertura
ao petismo, fechamento aos revolucionários?
Esta
política de frente permanente com petistas e governistas é complementada pela
entrada no PSOL de políticos sem nenhuma trajetória da defesa da independência
política dos trabalhadores frente ao governismo petista ou a partidos burgueses
ditos progressistas.
Uma
grande parcela da militância do PSOL e seus simpatizantes comemoram a saída do
senador Randolfe Rodrigues e do prefeito Clécio do Macapá para o Rede
Sustentabilidade de Marina Silva. Eram representantes de uma política “sem
limites” que permitia alianças eleitorais com o DEM e usar a justiça contra os
trabalhadores em greve. A saída destes dois deveria levar a uma conclusão de
ruptura com estes oportunistas de todo tipo que tentam fazer carreira em
partidos de esquerda, assim esperavam muitos militantes. Mas não é isto que as
novas filiações apontam.
Já
entraram no PSOL Brizola Neto que foi da direção nacional de um partido (PDT)
que apoiou e apoia até hoje o governo Dilma. Também tem entrado políticos
oriundos do PSB, como Glauber Braga (de Nova Friburgo – RJ) que foi presidente
estadual deste partido que sustentou o lulismo por mais de uma década.
Enquanto
as principais correntes do PSOL estão abrindo suas portas para estes deputados
oriundos do governismo e correntes lulistas-petistas como a Esquerda Marxista,
ao mesmo tempo as maiores correntes seguem colocando dificuldades para a
entrada de uma corrente que dentro ou fora do PSOL busca combater o petismo e
avançar uma perspectiva de independência de classe. Isso apesar de que a
campanha do MRT pela entrada no PSOL já foi apoiada por diversas correntes
internas, por figuras públicas como deputados estaduais e vereadores e
intelectuais que apoiaram a entrada de uma corrente revolucionária neste
partido.
No
entanto, está em questão se vai seguir primando no PSOL este rumo de adaptação
ao PT e ao governismo e de fechamento de espaço a correntes que defendam
abertamente essa perspectiva em chave revolucionária como o MRT ou se, por
outro lado, vão vir a se reposicionar forças que apontam em outro sentido, o de
construir o PSOL como uma verdadeira alternativa pela esquerda ao PT.
____________________________________